Passos de Camilo 2014

“Passos, que passos?” Impossível repetir passos passados, sejam eles quais forem… Quando, há 23 anos, no centenário da morte, o Grupo de Montanhismo de Vila Real decidiu editar em marcha a passagem de Camilo Castelo Branco desde Vilarinho da Samardã até Friúme, com 16 anos de idade, não pretendia talvez replicar o seu caminho físico, mas talvez o caminho plasmado em parte importante da sua obra, ou talvez sim, quem saberá? Talvez as duas coisas… A verdade é que o fizemos e demos a isso a importância devida a um ilustre filho da terra.

Reeditámos agora essa marcha, feita já com passos novos, mas com os mesmos objetivos. Em dois dias e cerca de 7 legoas

Dia 25/10/2014

Em Vilarinho de Samardã, na casa onde chegara com 14 e “onde passei os primeiros e únicos felizes annos da minha mocidade”, o próprio Camilo deu-nos as boas vindas e a boa viagem, registando com agrado o apreço. Na Igreja Matriz seria lido parte do seu conto “Impressão indelével”, o impressionante relato da exumação do cadáver de Maria do Adro, irmã no conto, namorada na vida real?

Subiríamos por caminhos novos para o Fojo do Lobo, onde à sombra patrimonial do monumento, se leu o texto que se lhe refere nas Novelas do Minho, “O Degradado”. Seria depois a calçada por entre monte e campos até à Samardã, onde se fez curta pausa para pequeno aconchego de estômagos e nova leitura de poema sobre a aldeia, que também os fez Camilo…

Seria depois o longo estradão para Soutelinho, à falta de caminho menos presto, onde seguimos por quelhos e caminhos, subindo até Outeiro e daqui, na direção NE (que seguíamos desde o Fojo) em novo estradão até nos desviarmos da direção de Telões para nos adentrarmos no matagal… Seguimos caminhos, sugestões de caminhos, caminhos tomados, atalhos, até voltarmos ao estradão e a uma pedreira…

Seria depois a saga de encontrarmos as subidas e descidas dos caminhos e carreiros que, a custo, nos levariam à povoação de Castelo e ao próprio Castelo de Aguiar. Aqui se fez o repasto principal, o repouso, a visita e a leitura apropriada de um excerto de O Esqueleto.

Seria depois o virar de rumo, para W, na direção da Povoação, através de estradão e tojal feroz, ao longo do rio e subida pedregosa final. A beleza e a vontade de chegar tornaram a travessia fácil…

Na Povoação tomamos curto caminho até à estrada e logo um trilho de fraguedo e caminho em que o empedrado final nos apontava o centro de Gouvães da Serra. Tínhamos terminado a primeira jornada.

Participantes, 15. Tempo total de caminhada e paragens, 8 h.

Dia 26/10/2014

Desde a escola de Gouvães, subimos a colina (pouco) íngreme para descermos para o Pinduradouro que passámos ao lado. A direção da marcha será (quase toda) NW.

Num instante se chega a Viduedo, através de pastos e bela levada. Faz-se pausa para o resto e leitura de Mistérios de Lisboa, Livro Segundo, Cap. XVI.“É uma terra muito desgraçada, não é?

Desde aí descemos, subimos e descemos (muito!) o carqueijal cerrado para o pé do rio Torno, seguindo em caminho suave, uns, e outros, por pouco tempo, por levada, até à ponte sobre o dito, por baixo da Portela. Aí seria o repasto em prado ribeirinho. A subida de empedrado leva-nos ao asfalto da Portela de Sta. Eulália.

Daí é a descida para Ribeira de Pena da bela e conservada calçada. Na igreja matriz de Salvador, lê-se o Registo de Casamento de Camilo Ferreira Botelho Castello Branco e Joaquina Pereira e o famoso poema que afixado na porta da igreja, foi um dos motivos que fez o fidalgo rumar a Lisboa…

Depois será o caminho (do Abade) até Friúme, por asfalto, terra e calçada empinada, onde nos aguarda uma visita à casa dos consortes (da família de Joaquina) e às suas exposições.

Estavam assim terminados os Passos de Camilo e os nossos passos. Restava-nos regressar à terra do pai…

Participantes, 9. Tempo total de caminhada e paragens, aproximadamente 5.30 h.